Álvaro Andrade
2.
você que me lê que deixa
minha palavra entrar por
olhos ouvidos mãos
atravessar seu corpo talvez até
sair outra vez por mãos
boca, só você sabe
o sabor que ela
de sua horta
evoca, a palavra
é o oco que nos sustenta
eco que nos provoca
chave e fechadura
elo entre parede e porta
a palavra é a candura
de todas as coisas duras
e prole das coisas moles
é o que perdura enquanto
tudo se sacode, a testa
na marrada do bode
e na
sabedoria do pobre
é na palavra
que a mão se apoia, a palavra
é o que nos acode é a atadura
da tipoia e no mar
mexido da confusão
ou no mar calmo do entendimento
é ela que flutua a boia
19.
do rascunho também
algo se perde
perde-se a hora do cinema
logo pela manhã
pele e cabelo
todos os dias
bem agora
perco na memória
como esse poema seguiria
27.
ver esse amor morrer
é como ver nascer um passarinho
no coração de uma lâmpada
29.
vejo a copa de uma árvore
da minha nova janela. sigo
mapeando passarinhos
Álvaro Andrade é poeta, diretor e roteirista, formado em Jornalismo pela UFBA e Mestre em Comunicação pela UFMG. Dirigiu a série Cine Barato (2018) e filmes como 10-5-2012 (2014) e A Nova Melancolia (2017). Foi responsável pela organização e curadoria das mostras Joel Zito Araújo – Uma década em vídeo [1987-1997] (2021/ 2024). E tem poemas publicados em postal, blogs, livros de amigos e redes sociais.
Ilustração: Douglas Ferreira
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